sexta-feira, 1 de maio de 2015

Mestres da Jurema

De forma geral, os mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça (índio com negro ou branco com uma das duas outras raças).

Os mestres foram pessoas que, quando em vida, trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimento de ervas e plantas curativas.

Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles teriam “se passado” (morrido), se encantando, podendo assim voltar para “acudir” os que ficaram “neste vale de lágrimas”.

Alguns deles se iniciaram nos mistérios e “ciência” da Jurema antes de morrer, como o mestre Inácio ou Maria do Acais e toda a linhagem de catimbozeiros de Alhandra, que após um ritual denominado “lavagem” ganham um lugar nas cidades espirituais e passam a incorporar nos discípulos que formaram.

Outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada.

No panteão juremista, existem vários mestres e mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de determinadas doenças, trabalho, amor…).

Há ainda aqueles especialistas em fazer trabalhos contra os inimigos. Nas mesas, as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o estado completo e a “jurema plantada“; em especial a do “mestre da casa”, aquele que incorpora no juremeiro, faz as consultas e iniciam os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso esse mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho“.

Cada mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de “ciência” (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria Jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados a fauna nordestina (mamíferos – guará, preá; aves – gavião, periquito, arara, pitiguarí; insetos – abelhas, besouro mangangá; répteis).

Para os mestres relacionados a uma outra planta que não a Jurema, são estas plantas (quando árvores) que tem seus trocos plantados nas mesas dos discípulos.

I

“No outro mundo, do lado de lá!

No outro mundo, do lado de cá!

Tem um pé de árvore, Angico real.

Tem um pé de Jurema, tem um pé de Jucá,

Tem um pé de árvore, Angico Real.

II

Ai meu Deus, Mestre Angico sou eu.

Ai meu Deus, Mestre Angico será.

Os anjinhos tão no céu, a sereia no mar.

Ai meu deus mestre Angico Reá.

(Jurema de Mesa)

Por exemplo, a cidade de Mestre Angico deve ser plantada em um troco da árvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em trocos de imburana de cheiro.

No caso dos mestres que tem relação com vegetais, são daquelas espécies que tiram a força e a “ciência” para trabalhar.

Os que tem relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.

Nesta categoria, como entre os caboclos, há uma distinção do gênero das entidades. Distinção que irá determinar seus atributos e como devem ser cultuadas.

O Cachimbo e a Fumaça
O símbolo dos mestres masculinos é o cachimbo ou “marca”, cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é “as esquerdas” ou “as direitas”.

Essa relação com a “magia da fumaça” é expressa nos assentamentos dos mestres, onde sempre se encontra presente “rodias” de fumo de rolo, nos cachimbos e nas toadas:

I

Setenta anos,

Passei no pé da Jurema.

Mas eu não tenho pena

De quem me faça o mal.

II

Se eu me zangar

Eu toco fogo no rochedo

Meu cachimbo é um segredo

Agora vou me vingar.

(Jurema de Mesa e Gira de Jurema)

Oferendas para os Mestres
Como oferendas, os mestres recebem a cachaça, que nunca deve faltar quando estão presentes nos cultos, o fumo, seja nos charutos ou os utilizados nos cachimbos, alimentos preparados com crustáceos e moluscos diversos.

Com essas iguarias, agrada-se e fortifica-se os mestres.

A bebida feita com a entrecasca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas de “ciência” (Junça, Angico, Jucá, entre outras) acrescidas à aguardente, é, entretanto, a maior fonte de força e “ciência”, para estas entidades.

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